Alinhamento. “Os interlocutores (parceiros conversacionais) operam juntos para alcançar a compreensão compartilhada sobre o que estão falando. […] Um aspecto da atenção compartilhada que tem grande importância pode ser nomeado como ‘alinhamento’. Para haver compreensão compartilhada [ou compreensão comum], os interlocutores precisam alinhar seus modelos situacionais, que são representações multidimensionais que contêm informações sobre o espaço, o tempo, a causalidade, a intencionalidade e sobre aquilo que é, no momento, pertinente para os interlocutores.” (Garrod, S.; Pickering, M. Why is conversation so easy? Trends in Cognitive Science, vol. 8, n. 1, 2004., p. 8)
Atos de Fala na Infância. Para Bates et alli (1975), a interpretação dos atos de fala na infância segue caminho distinto da interpretação do uso discursivo adulto. A ainda restrita expressivade verbal da criança faz com que a negociação comunicativa ocorra de forma diretamente perlocucionária.
- “We suggest that prior to the development of intentional communication, in the form of illocutions like the gestural imperative or declarative, infants engage only in perlocutionary communication with adults” (BATES, E.; CAMAIONI, L; VOLTERRA, V. “The Aquisition of Performatives Prior to Speech”, Palmer Quaterly, 21, n.3, 1975, p. 211).
- “Child, like adults, use language to get things done. However, gaining an accurate picture of children’s development of communicative intent is challenging.” (CAMERON-FAULKNER, T. “The Development of Speech Acts”, In: MATTHEWS, D. Pragmatic Development on First Language Acquistion. Amsterdan: John Benjamins, 2014, p. 36)
A fala da criança são atos de pedido de atenção, manifestação de contentamento, indicação de objeto direcionado para interlocutor aduldo e outras funções discursivas. As formas textuais atuam em conjunto com as manifestações prosódicas e gestuais.
Child Directed Speech são as formas interlocutivas negociadas pelos adultos durante as interações dialógicas com as crianças.
- “[T]hey appear to favor higher pitch and to use exaggerated-sounding intonation contours. […] Do infants pay greater attention to speech with such characteristics? The answer appears to be yes” (CLARK, E. First Language Acquisition. Cambridge: Cambridge Un. Press, p. 33).
Não é uma expressão técnica aceita por todos os autores. Ravid et alli (2008) fazem o seguinte comentário:
- “In a recent, pertinent discussion on InfoChildes (4. december. 2006), Dan Slobin commented that he prefered the term “exposure language” to other terms such “input” (which assumes the child takes everything in), “motherese” and “caregiver talk” (which exclude talk from non-parents and non-caregivers), and “child direct speech” (which excludes what children learn from overhead speech.” (RAVID, D. et alli. Core morphology in child directed speech. In: BEHRENS, H. Corpora in Language Aquisition Research, Amsterdam: John Benjamins, 2008, p. 26)
A forma exposure language, que pode ser traduzida a como exposição linguística, remete à distinção entre input e intake. Sobre o tema, vale a pena ver TRUSCOTT, J.; SMITH, M. S. Input, Intake and Consciousness: the question of a theoretical question. Second Language Acquisition, vol. 33, 2001, p. 497-528
Debate de Royalmont. Em outubro de 1975, na abadia de Royalmont, na França, Chomsky e Piaget apresentam suas visões divergentes sobre o inatismo e o construcionismo. Esse debate é considerado como um clássico debate conceitual. À época, no entanto, havia poucos dados empíricos disponíveis sobre a aquisição da língua materna.
- “[…] em vez de um compromisso conceptual, o debate foi, ao invés , um ponto de viragem no extremar das posições, com os inativas defendendo a especificidade inata da linguagem e os construtivistas assumindo a dependência desta do funcionamento de estruturas cognitivas.” (FREITAS, M.J.; SANTOS, A.L. Aquisição de Língua Materna e não-Materna. Berlim: Language Science Press, 2017, p. 13)
- “Em outubro de 1975 foi promovido pelo Centro Royaumont para uma Ciência do Homem um simpósio cujo objetivo era propiciar um debate entre os programas científicos de Chomsky (a lingüística generativa) e de Piaget (a epistemologia genética), considerados, à época, em pleno desenvolvimento e paradigmáticos” (EICHELER, M.; FAGUNDES, L. Atualizando o Debate entre Piaget e Chomsky em uma Perspectiva Neurobiológica. Psicologia: Reflexão e Crítica, vol. 18, n. 5, 2005, p. 256)
Dialogismo. As propostas interacionistas consideram a dialogia em suas explicações. “A criança não se move de estruturas linguísticas para o discurso, mas dos enunciados do outro para os seus próprios enunciados: em resumo […] o discurso dela é essencialmente dialógico”, diz Frédéric François. Em artigo publicado na Revista Bakhitniana, (2021) “As implicações de uma abordagem dialógica para a aquisição de linguagem: o exemplo de uma pesquisa sobre a aquisição de expressões referenciais”, A. ORVIG, G. DE WECK e R. HASSAN discutem o tema em eco ao trabalho de Frédéric François.
Diários Parentais são gravações da fala espontânea de informantes infantis registrados e anotados por seus parentes próximos. As gravações são feitas sem que haja qualquer alteração dos contextos e das situações interlocutivas da casa (ou escola e espaço público) onde mora a família. Para estudos de acompanhamento longitudinal, o uso de diários parentais é uma forma adequada para a coleta de dados na composição de small corpora.
- “Registra-se como um texto precursor dos diários parentais que relatam a aprendizagem da língua materna o diário escrito por Jean Héroard (1551-1628) sobre o cotidiano do futuro rei da França desde seu nascimento, entre1601 e 1628. Em Le journal de Jean Héroard sur l’enfance et la jeunesse de Louis XIII (1896) uma enorme quantidade de ocorrências lexicais e sentenciais produzidas pelo infante. Mesmo que haja ensaios de registros da fala na forma infantil […] ao material linguístico anotado não se atribui valor registro espontâneo, porque as anotações feitas por Héroard usam a língua padrão da época. Não são poucos os diários produzidos sobre o desenvolvimento da fala dos filhos.”(Para ter acesso a alguns desses registros, ver: As obras L’Enfant dans la langue (Morgenstern, 2009) e A History of psycolinguistics (Levelt, 2013)).
- “Se, por um lado, podem ser contestados em função do inerente envolvimento afetivo na escuta e na seleção das ocorrências anotadas, os diários, por outro lado, são produzidos em ambientes em que a interação comunicativa entre os filhos informantes e os pais pesquisadores ocorre da forma mais espontânea possível. A presença de pesquisadores externos à família nuclear resulta em alguma alteração do cenário natural de interação entre pais e filhos, como relatam Hart e Risley: “quando as observações se iniciam, as famílias e os observadores podem se sentir igualmente desconfortáveis” (Hart; Risley, 1995, p. 33) (cf. PERINI-SANTOS, P. et alli. Pesquisa longitudinal: a evolução… Revista de Estudos Linguísticos, vol. 27, n.1, 2019)
Nos anos 1950, ocorre uma mudança significativa nos padrões de compilação e análise dos dados dos diários parentais. Os trabalhos de Roger Brown são uma referência. Os registros de áudio feitos por familiares passaram a ser tratados por equipes de pesquisa dedicadas à transcrição, à análise e à etiquetação dos dados – objeto de pesquisas qualitativas, quantitativas e, mais tarde, computacionais sobre a aquisição da língua materna. Sobre o tema: BEHRENS, H. Corpora in Language Aquisition Research, Amsterdam: John Benjamins, 2008.
Diários por Tópicos são os registros direcionados, transcritos e anotados de alguns usos linguísticos emergentes na fala dos informantes. Se a pesquisa se dedica ao estudo da evolução do uso preposicional, por exemplo, serão gravadas, transcritas e consideradas apenas as ocorrências onde aparecem preposições. Essa forma de diário parental tem início no final dos anos 1950.
- “The focus of data collection changed from comprehensive to so-called topical diaries (Wrigth, 1960): diaries where just one or a few aspects of language development are observed. Examples of this kind are Melissa Bowerman’s notes on her daughter’s erros and overgeneralization especially of argument structure alternations like the causative alternation (Bowerman, 1974, 1982); Michael Tomasello’s diary notes on his daughter’s use of verbs (Tomasello, 1982); or Susan Braunwald’s collection of emergent or novel structures produced by her two daugherts (Braunwald and Brislin, 1979).” (BEHRENS, H. Corpora in Language Aquisition Research, Amsterdam: John Benjamins, 2008, p. xiii)
Discurso Infantil. Tema de enorme interesse para os estudos dialógicos, o child discourse, é apresentado como incipiente pela revista Language de 1979. MacWhinney refere-se à publicação da obra por ele resenhada como “a inauguração de uma nova e importante linha de pesquisa sobre a linguagem infantil”. MacWhinney reconhece três abordagens sobre o discurso infantil. Uma primeira discorre sobre os dispositivos gramaticais; a segunda sobre os padrões discursivos e o terceiro sobre as estruturas cognitivas desenvolvidas pelas práticas discursivas infantis.
- “The acquistion of discourse competence, like the acquisition of general communicative competence (to use Hyme’s term) has been viewed from three somewhat different perspectives. The first , that of developmental psycholinguistics (e.g. Bates & Machinney 1978, Maratsos 1976), has focused attention on the learning of those grammatical devices which are determined by intersentencial relations. The second perspective, that of folklorists (Opie & Opie 1959) and developmental sociolinguistics (e.g. Bernstein 1971, Ervin-Tripp 1969), has been primarily concerned with the acquistion of discursive patterns as determined by social role structure. The third perspective, that of cognitive developmentalists (e.g. Piaget 1926), has viewed the acquisition of new structures in discourse as a consequence of the acquisition of new cognitive structures.” (Child Discourse. Edited by Susan Erin-Tripp & Claudia Mitchell-Kernan. 1977. Review by Brian MacWhinney, Language, vol. 55, n.1).
Gramática Universal. “A Gramática Universal traduz-se em categorias sintáticas abstratas – como sujeito, verbo e complemento – a serem preenchidas e organizadas de acordo com os itens lexicais coletados durante a dita pequena experiência linguística que teve a criança.” (PERINI-SANTOS, P. et alli. Pesquisa longitudinal: a evolução… Revista de Estudos Linguísticos, vol. 27, n.1, 2019, p. 76)
Idades de Aquisição. Apesar de haver enorme variação sobre as datas assumidas como marcos de quando as crianças começam a falar, e sobre o que se considera como começar a falar, assumem-se comumente alguns pontos temporais referenciais do processo de aquisição da LM como o uso de balbucios aos 6 meses, das primeiras palavras aos 12 meses e das formações sintáticas telegráficas aos 24-30 meses.
- “Age-of-acquisition (henceforth AoA) is a psycholinguistic construct that refers to the age at which the average child learns a given word. The AoA effect, referring to the processing advantage that words acquired early hold over those learnt later, is well established in the word recognition literature, affecting performace on tasks such as picture naming, word naming, semantic classification, lexical decision, and more. AoA has furthermore been suggested to affect words’ resiliense in Alzheimer’s disease and aphasia” (WIKSE BARROW, C.; NILSSON BJORKENSTAM, K.; STROMBERGSSON, S. “Subjective ratings of AoA: exploring issues of validity and rater reliability, Journal of Child Language, 46, n.2, 2019, p. 200).
Imitação. Sobre a aquisição de segunda língua, H. Douglas Brown (1994) distingue dois tipos de imitação. A imitação de superfície, quando são mimetizadas as formas sonoras, observando-se os elementos fonológicos; e a imitação de profundidade:
- “Nonetheless, as children perceive the importance of the semantic level of language, they attend primarily if not exclusively to that significant level – the deep strucutre of language as a second type of imitation.” (FITRIANI, S. A Child Language Acquisition in Indonesian and English Language: A Longitudinal case study. Register Journal, vol. 12, n.2, 2019)
Inatismo. “O inatismo propõe que o ser humano nasce provido de uma aptidão neurobiológica para a linguagem pronta para ser ativada. Assume que o uso linguístico que circunda o aprendiz oferece-lhe uma quantidade de input restrita, porém suficiente, para acionar os mecanismos da Gramática Universal que lhes são inatos.” (PERINI-SANTOS, P. et alli. Pesquisa longitudinal: a evolução… Revista de Estudos Linguísticos, vol. 27, n.1, 2019, p. 76)
- “To repeat, there is no reason for any dogmatic assumptions about the nature of Language Acquisition. The only conditions we must meet in developing such a model of innate mental capacity are those provided by the diversity of language, and by the necessity of provide empirically attested competence within the observed empirical conditions.” (CHOMSKY, N. Recent Contributions to the Theory of Innate Ideas. Synthese, vol. 17, n.1, 1967, p. 2)
Language Minority, minoria linguística, falantes infantes ou jovens que descendem de famílias em que a língua inglesa, por oposição a Only English, não é frequentemente usada em casa.
- “Language Minority learners come from homes in which the primary language spoken is not English, and thus a school entry, they are faced with the dual task of acquiring proficiency and developing academic skills in the language of instruction.” (GAMEZ, P.; LESEAUX, N. “The Relation Between Exposure to Sophisticated and Complex Language and Early‐Adolescent English‐Only and Language Minority Learners’ Vocabulary”. Child Development, vol. 84, n.4, 2012, p. 1317)
Língua Materna. Sobre o porquê da adjetivação materna,
- “Les pères passent seulement quelques secondes ou quelques minutes par jour à parler à leurs enfants pendand les premiers mois d’existence” (Rondal, J. L’interaction adulte-enfant et la construction du langage. Liège: Pierre Mardaga, 1978, p. 63).
- Sobre a expressão materna, o sociológo Jean-Didier Urbain propõe interpretação simbólica sobre seus primeiros usos na literatura francesa do XIV. (URBAIN, J. Língua materna, parte maldida da linguística. Revista de Estudos Estudos de Língua Portuguesa, vol. 4, n.4, 1987)
Mean Length of Utterance é o comprimento médio da ocorrência. Medida usada como aspecto correlato entre o desenvolvimento gramatical e a capacidade de expressão.
- “More than 30 years ago, Mean Length of Utterance (calculated in morphemes rather than in words) was promoted by Brown (1973) as ‘an excellent simple index of grammatical development that made it possible to match.” (BASSAMO, D; GEERT, P. Modeling continuity and discontinuity in utterance length: a quantitative approach to changes, transitions and intraindividual variability in early grammatical development. Developmental Science. vol. 10, n. 5, p. 589)
Only English refere-se a falantes infantes ou jovens que descendem de famílias em que apenas a língua inglesa é falada em casa. Por extensão, essa categorização aplica-se a outros idiomas em cujos países de prática há população imigrante demograficamente significativa.
Retomadas. As retomadas podem ser Repetições ou Reformulações. As Repetições ocorrem quando uma forma linguística recém recebida é usada no turno de fala responsivo sem alterações, como aparece no exemplo apresentado por Clark & Chouinard (CLARK, E.; CHOUINARD, M. “Énoncés enfantins et reformulations adultes dans l’acquisition du langage”. Langages, n°140, 2000, p. 9-23).
- Philippe (2;6.13): Elle est partie. (ela saiu)
Mãe: Eh oui, elle est partie.
As Reformulações ocorrem quando o interlocutor reformula o que acabou de ouvir em um formato adequado, com o intuito corretivo no caso do uso adulto em função Child Direct Speech. As reformulações são sintática e prosodicamente modificadas pelo adulto:
- Philippe (2;1.26): les mettre dans le garage. (colocá-los na garagem)
Mãe: Il faut les mettre dans le garage? (é preciso colocá-los na garagem?)
Ainda em Clark & Chouinard (2000), exemplos de Reformulação lexical.
- Philippe (2;2.10): Il a des neus le camion.(o caminhão tem *neus)
Mãe: Oui, il a des pneus; pneus.
O exemplo de Reformulação que segue logo abaixo é proveniente do corpus do grupo CIL [ref.: cilag14: 1;04]
- MOT: fala assim: mais vovó
CHI (1;06.01): mais
GRA: mais o que?
Small Corpus. Sobre a escolha e a dimensão dos corpora especializados que compõem a pesquisa do grupo CIL.
- “This is where smaller, more specialised corpus have a distinct advantage: they allow a much closer link between the corpus and the contexts in which the texts in the corpus were produced. Where very large corpora, though their de-contextualisation, give insights into patterns of language as a whole, smaller specialised corpora give insights into patterns of langage use in particular setting. With small corpus, the corpus compiler is often also the analyst, and therefore usually has a high degree of familiarity with the context. […] Therefore, analysis of such corpora can reveal connections between linguistic patterning and contexts of use.”(KOESTER, A. Building small specialised corpora, p. 67, (In: O´KOFFEE, A.;McCARTHY, M. The Routledge Handbook of Corpus Linguistics. London: Routledge, 2010)
Transcrição é o regitro escrito dos diálogos que ocorrem durante as gravações. A prática da transcrição das falas das crianças mais novas envidencia “de forma exacerbada a distância importante que pode haver entre as formas de fato produzidas e as transcrições linguísticas” (MORGENSTERN, A.; PARISSE, C., 2007). Deve compor as transcrições o registro dos sons, dos gestos, dos contextos e das situações das conversas de tal forma detalhada que possibilite a pesquisadores estranhos à coleta a análise dos dados.
- “As transcrições linguísticas devem conter uma quantidade mínima de dados fonológicos e ortográficos completos: os dados fonológicos possibilitam seguir passo a passo a evolução da linguagem da criança de forma qualitativa e quantitativa; os dados ortográficos facilitam o acesso às informações externas ao corpus (frequências, categorias sintáticas ou semânticas, etc). Outros dados (entonação, variações fonéticas, contexto pragmático, etc.) podem ser acrescidas em função das necessidades específicas das pesquisas.” (MORGENSTERN, A.; PARISSE, C. Codage et interprétation du langage spontané d’enfants de 1 à 3 ans. Corpus, n. 6, 2007, .p. 56)